sexta-feira, junho 25, 2010


Tarde Demais

Decidi, a partir daquele instante, que não iria mais ligar. Dane-se então, era a minha vez de fingir que ele não existia, de querer que ele ligasse, de querer que ele pedisse um sinal de vida meu, de querer que ele ficasse preocupado com o meu bem estar.
Uma, duas, três semanas passaram, mas ele também não ligou. E a cada hora, a minha vontade de discar o número dele no telefone só aumentava. Mas não, era a minha vez de ignorar, bem como ele estava fazendo.
Quando nos vimos, virei o rosto. Pelo menos agora, ele já sabia, ele já tinha percebido que alguma coisa estava muito errada. Perguntou o que eu tinha, e as minhas cartas estavam todas na mesa. Disse tudo. O que faltava, a minha perda de esperança em nós, a saudade. E ele só gritava: “O QUE MAIS VOCÊ QUER? O QUE MAIS VOCÊ QUER?”
Atenção. E tudo acabou ali.
Não era nem porque, de uns tempos pra cá, ele não estava presente na minha vida, nem porque ele não me ligava mais. O problema é que eu tinha que enfrentar três monstros todos os dias: o primeiro, o orgulho dele; o segundo, os estudos dele. Aquela quantidade exorbitante de matérias pra estudar em tão pouco tempo o faziam esquecer que tinha uma namorada; e o terceiro, eu precisa fazer com que ele se apaixonasse por mim todos os dias, e era realmente desgastante.
Amar eu o amava, amava tanto a ponto de, muitas vezes, ter me sacrificado por nós, mas também me amava o suficiente para não sofrer assim.
Enfim, passou. Ou não. Fiz de tudo pra seguir em frente, pra conseguir sorrir de novo, pra levar a minha vida como eu levava antes. Fui a festas, conheci gente nova, retomei amizades antigas, bebi, conversei, pedi conselhos e dei conselhos. A intenção era me divertir. Não funcionou. Ainda o queria de volta calorosamente, como se ele tivesse levado mais do que nós dois. Eu sabia que mesmo não querendo, tinha ido embora com ele.
Bom, tarde demais. Não me arrependia de ter feito o que fiz, e se pudesse escolher, não queria que ele voltasse. Mas eu queria, MUITO. Talvez exatamente pelo fato de não poder escolher outra coisa.
O passo estava dado. Eu não voltaria na minha decisão, ela já estava tomada, e ele também não correria atrás. Por mais que ainda me amasse, seu orgulho infeliz jamais iria permitir que ele se submetesse a isso.
E eu continuava me sentindo dele. Todo o meu corpo clamava por perdão e retorno, meus olhos não aguentavam derramar mais uma lágrima que fosse e meu coração já estava anestesiado: a dor era tanta que não doía mais. Meu sorriso ainda queria o dele, minhas mãos ainda queriam as dele. Eu inteira ainda suplicava pelo seu abraço.
Mas já era tarde. Ainda que eu pertencesse a ele.
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